PARTICIPAÇÃO DO SETOR PRIVADO

Marcos Pontes
30/07/2006

Quatro empresas americanas ganharam contratos para planejar, em conjunto com a NASA, os destinos do Programa Constelação. Os contratos terão duração de noventa dias, no final dos quais, elas deverão apresentar soluções práticas, de curto e longo termo, aplicáveis ao desenvolvimento da infra-estrutura de apoio e lançamento dos novos foguetes a serem construídos no mesmo programa. Lockheed Martin, ATK Launch Systems, Boeing Space e United Space Alliance foram as empresas selecionadas. Cada uma delas receberá US$150 mil do governo americano para esse trabalho inicial.
O Programa Constelação, baseado aqui no Johnson Space Center (JSC), em Houston, desenvolverá foguetes lançadores, veículos de transporte, cápsulas, plataformas de lançamento e outros sistemas, que tomarão parte no desafio de retornar à Lua, ir a Marte e continuar além, na exploração e conquista espacial. Espera-se que os primeiros veículos comecem a operar em 5 anos. Para tanto, todos os dez centros da NASA estarão tomando parte no programa, segundo suas especialidades. Por exemplo, a gerência do programa é feita por JSC, onde também serão desenvolvidos os sistemas tripulados; NASA Ames, na Califórnia, lidera a parte de projeto e construção da proteção térmica das espaçonaves; e assim por diante.
É um esforço grande e coordenado. Não poderia nunca deixar de envolver o setor privado. Dessa forma, seguindo o modelo de sucesso que tem sido adotado pelas agências de ponta no setor espacial, as quatro empresas citadas foram contratadas para contribuir, desde a concepção do projeto, com sua experiência e recursos. Essa estratégia de integrar completamente o setor privado nos projetos do governo, em todas as suas fases, apresenta várias vantagens. Entre elas, destaca-se o planejamento realístico em termos de cronograma, recursos, custos e possibilidades do parque industrial. Falhas dessas estimativas mostraram-se extremamente prejudiciais a vários programas conhecidos no passado, incluindo a Estação Espacial Internacional (ISS).
Hoje no Brasil, o nosso programa espacial apresenta tendências de seguir por esta mesma direção. A aproximação do setor privado, com a participação pioneira da FIESP e SENAI-SP na fabricação das partes nacionais da ISS, abre essas novas perspectivas. A solidificação da posição e importância da indústria no planejamento estratégico e técnico dos projetos nacionais na área espacial aproxima-se agora mais do trabalho do dia-a-dia, afastando-se do conceito de simples representação por votos em comitês administrativos.
É uma nova fase, em que vemos a clara possibilidade de vantagens para os dois lados. Do lado do setor público, teremos atividades planejadas e executadas com maior realismo e eficiência técnica. Do lado do setor privado, representa maior segurança nos contratos da área e a oportunidade do uso de compartilhar recursos científicos para o desenvolvimento de tecnologias e produtos. Certamente um processo sinergético bastante interessante para o País e que possivelmente contribuirá, muito, para o sucesso de projetos essenciais como o Veículo Lançador de Satélites (VLS), as plataformas de lançamento e o desenvolvimento de sistemas e cargas úteis nacionais.

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